TRISTE DE TIA
NEIVA
Nos 5 anos em que tive o privilégio de acompanhar de perto a luta de Tia Neiva para implantar sua obra missionária, jamais vi em seu rosto, um sorriso alegre e espontâneo, era sempre aquele sorriso sem vida e velado pela tristeza.
Certamente, a justificativa para tanta tristeza constatada em quase todos os grandes missionários, em sua sabedoria e clarividência, ela já sabia de tudo o que ocorreria com sua obra após a partida desse mundo material.
Sabia que a luta pelo poder e o fascínio pelo ouro e pela prata, seriam fatores desagregadores de sua obra missionária, exatamente como vemos ocorrer atualmente.
Sabia também, que aqueles que deveriam zelar pela união, preservação e engrandecimento de seu legado, seriam os responsáveis pela sua desagregação.
Hoje eu entendo o porquê de seu sorriso amargo e principalmente, a frustração demonstrada em todos os seus gestos e ações nos últimos dias de sua existência física.
Entendo também que seu imenso esforço em complementar sua obra, mesmo carregando um tubo de oxigênio por onde ia, aguentando resignada a dor física, devido aos vários fatores degenerativos que corroíam seu organismo debilitado, ao final, sofreria tantos revezes, a ponto de levar irmão contra irmão, exploração indevida e divisão de sua obra com perseguições, intrigas, desilusões e aquinhoamento de seu legado como se esse fosse herança familiar, e não, um bem universal voltado para o esclarecimento e "evolução espiritual da humanidade".
Quando aqui cheguei, fiquei em um quarto na casa grande ao lado do quarto dela, e lá pelas tantas da madrugada, quando aqueles que, ávidos para extrair sua emanação, sua bênção e conhecimento se retiravam, ao se recolher e assumir a roupagem de humana comum sem a aura mediúnica, ela era acometida pela dor física e seus gemidos eram desesperadores e me causavam grande agonia por um lado, mas pelo outro, despertava em mim, uma admiração incomum pela sua determinação e coragem para complementar sua missão.
Era triste ver pessoas levar banalidades para serem resolvidas por ela, que mesmo retorcendo de dor, com toda a paciência e resignação, procurava solucionar os problemas dos outros sem nada pedir em troca.
Eu pergunto, será que todo esse sacrifício foi em vão?
Acredito que não, portanto, chegou a hora de acabarmos com as mazelas e mesquinharias e assumirmos de uma vez por todas, a roupagem de defensores de sua grandiosa obra, vibrando na mesma sintonia como verdadeiros irmãos.
Sinto-me cansado e frustrado quando ouço comentários do tipo:
“Ela veio para
ensinar, eu vim para corrigir”.
É doloroso ouvir tal coisa e pergunto:
Quem em sã consciência tem conhecimento espiritual ou capacidade intelectual para corrigir ou alterar uma vírgula sequer da obra deixada por uma clarividente, sem provocar graves e irreversíveis consequências?
Tia Neiva jamais perseguiu ou impediu quem quer que fosse de adentrar sua casa, mesmo que este fosse um inimigo declarado, ao contrário, ela fazia de tudo para trazer os contrários para junto de si, e tentar convencê-los através do amor, humildade e tolerância, a juntar-se à sua luta por um mundo melhor e mais compreensivo.
Hoje eu entendo o porquê de seu sorriso triste e amargo, sua dor e resignação diante de um final iminente.
Precisamos nos sensibilizar e entender sua luta para complementar sua missão e, de forma lúcida e responsável, buscar o entendimento através do diálogo para, dessa forma, tentar preservar sua essência em benefício dos necessitados e equilíbrio de uma humanidade cada vez mais sofrida, e um mundo à mercê do terrorismo e iminência de uma devastação nuclear.
Precisamos mostrar ao mundo que somos diferentes e preocupados com a união,
evolução espiritual e pacificação de nossos semelhantes.
Seria um ato de grandeza começar trazendo de volta os remanescentes ainda vivos, que foram consagrados por ela para dar continuidade à sua obra, como o Adjunto Sumanã e o 1º Doutrinador Ajarã, como também, todos os comandantes formadores de povo ou presidentes dos templos externos, independente de sua tendência ou origem.
Como bem lembrou um amigo meu, a guerra de Troia durou 10 anos, as desavenças e divisões em nossa doutrina também está fazendo 10 anos, portanto, chegou o momento de acabarmos com essa guerra insana.
Será uma bela demonstração de respeito, responsabilidade e comprometimento missionário, e com certeza, motivo para, quem sabe, alegrar um pouco o sorriso de Tia Neiva e promover uma grande festa nos planos espirituais.
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Vilela 26 de agosto de 2017 |